Quando a voluntária Keren Hapuque, de 25 anos, se colocou à disposição do Senhor para trabalhar na obra missionária, não imaginava o quanto Ele a usaria para transformar vidas e também ela própria. Membro da Primeira Igreja Batista em Teresina/PI, Keren já está há quatro meses auxiliando e servindo no projeto Fábrica da Esperança na África Ocidental*. Com previsão de retorno ao Brasil em janeiro, ela antes nos contou um pouco de sua jornada no campo. Veja a seguir.

*por motivos de segurança o nome do país não pode ser revelado.

O QUE A LEVOU A TOMAR A DECISÃO DE SERVIR NESTE CAMPO?
KEREN HAPUQUE:
Desde os 15 anos eu tenho orado para que o Senhor revele um campo no qual eu pudesse servir como missionária. E eu tive amigos que serviram no projeto Radical África e que falavam muito que eu iria amar fazer o mesmo. Tudo isso ficou guardado no meu coração. E quando eu decidi me apresentar à JMM, em nenhum momento eu falei a respeito da África Ocidental. Mas recebi a proposta de dois países: a Guiné-Bissau ou um país aqui da África Ocidental. Então, assim, a decisão já estava tomada no meu coração, que seria de vir para cá.

COMO TEM SIDO O APOIO DA FAMÍLIA E DA SUA IGREJA NO CUMPRIMENTO DESSE CHAMADO?
Fundamental. A minha igreja tem me sustentado integralmente aqui. Sou muito grata à vida de todos os irmãos e familiares que me adotaram, que têm me sustentado em oração e também financeiramente.
Sou muito grata à vida do meu pastor que é um homem de Deus, realmente ungido. E grata a minha família que tem prestado todo apoio; os meus pais, o meu noivo. É o apoio deles, as orações, a intercessão, o sustento financeiro que permitem que eu esteja aqui.

COMO É O RELACIONAMENTO COM OS MISSIONÁRIOS E A COMUNIDADE?
São diversos os projetos e missionários neste campo e eu tenho tido uma excelente relação com todos eles. Na Fábrica da Esperança com a coordenação dos diretores do centro médico; com a coordenadora dos Radicais e diretora da escola da Fábrica e a coordenadora do PEPE. Tenho trabalhado em alguns momentos na escola do projeto e também na escola de surdos, e principalmente com duas turmas de Radicais. Também atuo na escola Estrela Brilhante. Temos trabalhado juntos, buscando expandir o Reino.

Com o tempo consegui aprender um pouco a língua deles. São pessoas bastante solícitas. Tem a "teranga" (hospitalidade deles). Sempre vão nos tratar bem como estrangeiros e permitem que estejamos próximos a eles.

COMO TEM APOIADO NESSES PROJETOS?
Eu me inscrevi no programa Voluntários Sem Fronteiras como Cirurgiã-Dentista. Falei que gostaria de usar a minha profissão no Reino
— que é o que eu já faço na minha igreja. E assim foi feito.
Tenho atuado como dentista atendendo à comunidade, nas escolas e nos demais projetos. Também supervisiono as escolas como dentista.

QUAIS AS MAIORES NECESSIDADES QUE ENCONTROU NO CAMPO?
Acredito que as maiores necessidades que a gente encontra aqui – além de físicas, materiais por se tratar de um país muito pobre – é muita barreira espiritual. Tem muita necessidade de oração em relação a este país. Porque é um campo muito fechado, apesar das pessoas serem simpáticas, serem superficialmente acolhedoras, elas são muito fechadas a qualquer coisa que vá contra as tradições locais. É um campo muito hostil à pregação do Evangelho. Muitos cristãos no país ainda recorrem a práticas animistas. É realmente um lugar muito fechado em que é difícil colher frutos.
Também há poucas pessoas para dar conta de todo o trabalho. São projetos grandes, são escolas, clínica, então realmente é muito trabalho. E neste país, não dá para fazer mais de uma coisa por dia, porque tudo é muito caótico, o trânsito é impossível, você demora muito no caminho, deslocamento entre os lugares. E é muito caro se deslocar de um lugar para o outro. Isso acaba inviabilizando muitas coisas. Precisamos de mais obreiros aqui na África Ocidental. Que mais pessoas venham para continuar as ações missionárias.

HÁ ALGUM TESTEMUNHO QUE MAIS A EMOCIONOU?
Em especial o caso de uma paciente que eu atendi no consultório, a Eliana (nome fictício). Ela é filha de uma feiticeira e trabalhava no projeto da clínica. Um dia esta jovem adoeceu, ficou gripada, muito mau e a progressão da doença foi muito rápida. Então, ela foi internada e descobriu que estava com Aids, HIV positivo. E a família dela, por ter práticas de feitiçaria e animismo, começou a fazer diversos trabalhos com a vida dela para que ficasse curada, digamos assim.
A Eliana começou a fazer o tratamento contra a Aids e realmente passou a conviver melhor com a doença. Mas mentalmente ela ficou um pouco desequilibrada.
Ela chegou ao consultório da clínica e percebi que havia muita necessidade de um tratamento odontológico. E eu disse que iria atendê-la.

Quando ela chegou, estava muito apática. A Eliana fala português, então, eu falava com ela e ela meio que não entendia o que estava acontecendo.
E aí eu disse: "Eu vou atendê-la porque essa daqui é aquela pessoa que, é como a palavra diz `aquilo que fizer ao necessitado é como se estivesse fazendo a mim, o Senhor'" (Mt. 25.40).
Então eu fui atendê-la e reconstruir todo o seu sorriso. Fiz três canais, reconstruí os dentes da frente que estavam muito cariados.
E quando a gente terminou o serviço, eu disse assim: "Eliana, agora você vai se olhar no espelho". Eu sinceramente achei que ela não teria nenhuma reação, que ela iria ficar apática. Mas ela ficou tão alegre, que mudou de semblante. Ela mudou a atitude dela. Começou a falar. Mudou completamente. Passou a conversar. Isso foi algo que me marcou.
Fico feliz por ver que através da minha profissão, vidas têm sido impactadas. Eliana deixou o consultório imensamente agradecida e isso me deixou tremendamente alegre.
Foi um ânimo ver como o Senhor pode usar as coisas em prol dessas vidas, da salvação dessas pessoas. E como elas se sentem amada. Diversos outros pacientes que a gente atendia diziam: "Nossa doutora, como você trabalha bem, como você cuida da gente, conversa com a gente." Tudo isso tem sido marcante para mim.

O QUE DEUS TEM FALADO AO SEU CORAÇÃO NESSES MESES?
O Senhor tem mostrado em diversas situações que eu preciso ser fiel a sua Palavra, que preciso ser fiel ao propósito que colocou no meu coração. E assim, Deus tem me honrado de todas as formas. Tem suprido cada uma das minhas necessidades, mostrado o quanto eu precisava estar mais próxima Dele. E tudo isso tem sido bastante trabalhado aqui na minha vida.
O Senhor muitas vezes grita ao nosso coração coisas que precisam ser trabalhadas e o quanto Ele deseja a nossa fidelidade. Porque Ele não nos cobra resultados, eles aparecem quando somos fiéis à Palavra Dele. E isso é algo que tem mais me marcado durante todo esse tempo aqui, a fidelidade ao Senhor.

 

Faça parte você também
Ore neste momento. Se você sente no seu coração um chamado para servir ao Senhor no campo missionário, clique aqui e entre em contato com a coordenação do programa Voluntários Sem Fronteiras para saber como participar.

Mas se Deus o chama para fazer a obra onde você está, então contribua adotando um missionário ou projeto de Missões Mundiais e ajude o Reino levando outros a contribuírem também. Sua colaboração permitirá o envio de mais recursos e obreiros aos campos para a expansão do amor de Cristo a todos os povos.

 

 

Jamile Barros (com supervisão de Marcia Pinheiro)