Finalmente o inverno está não apenas no calendário, mas sim no clima. Já estamos no terceiro mês de inverno e somente agora a neve e o frio estão dominando a região. Na realidade, as nossas crianças, pela primeira vez na vida, viram e sentiram o que é frio e uma nevasca de verdade. Algo que 30 anos atrás foi comum, agora é uma raridade. Houve um dia que nevou sem parar, paralisou praticamente a vida na aldeia Paljanycja nos montes Cárpaty, onde nós passamos os últimos quatro dias para um acampamento de jovens da nossa igreja.

Um dos participantes deste acampamento foi Petrô (versão ucraniana do nome “Pedro”). Petrô tem 25 anos e agora é um dos líderes do trabalho com jovens. Ao mesmo tempo, ele é uma das peças chaves no Ministério de Mídia e nas redes sociais da nossa igreja. Faz um ano que a gente procura usar esta ferramenta para evangelização e já conseguimos algum êxito; e Petrô é o líder deste trabalho. Ele é muito tímido, e introvertido, porém bastante amigável. Se você sentar e falar com ele, vai ficar impactado com os seus valores e segurança em Cristo. Mas antigamente não era assim.

Petrô, o caçula dentre três crianças, nasceu num lar totalmente desestruturado. O seu pai não era bom exemplo, tinha problemas com álcool e com adultério. A sua mãe, Olga, sofria bastante, mas sempre procurava preservar a família. Simplesmente não tinha outra opção. Depois do colapso da União Soviética, a década de 1990 foi a mais difícil. Desemprego total, a falta de qualquer recurso fazia do pai a única fonte de renda para a família Panov. 

Um dia o pai não voltou; foi viver com outra mulher, abandonando Olga e as três crianças. Uma história muito comum nos dias de hoje, infelizmente. Durante longos anos Olga batalhou para sustentar as crianças, porém Petrô  teve problemas sérios nos olhos e a condição da família piorou. Com poucos recursos financeiros eles não conseguiam um tratamento adequado. Petrô quase ficou cego, mas pelo milagre de Deus a situação se estabilizou. No entanto, ele teve que usar óculos, do tipo “fundo de garrafa”. 

Já pensou uma criança desta numa escola?! Naquele momento a gente ainda não conhecia o termo “bullying”, mas Petrô sabia do seu efeito na pele. Foi nessa época que sua mãe começou buscar a Deus e, pela providência do Pai, a nossa congregação “Transfiguração” começou a ser plantada a poucas quadras da sua casa. Como a gente começou a trabalhar com as crianças de rua, Olga logo trouxe os seus. Primeiro se converteu o mais velho, Juri, depois a mãe e a filha do meio, Masha. Mas o Petrô, sendo um adolescente todo fechadão, demorou mais para se abrir a Deus. 

Ele conseguiu se tornar um especialista na área de Tecnologia da Informação (TI) e aos 20 anos de idade tornou-se um homem de negócios, ganhando uma fortuna na internet. Com o fim da pobreza, ele logo construiu uma casa para a sua mãe, comprou apartamentos e carros para os seus irmãos. Petrô mostrou a todo mundo que ele não é fracassado. Mas a sua alma continuava sem verdadeira alegria. Simpatizante da igreja e do trabalho infantil da nossa igreja, ele aparecia nos cultos. Mas durante anos não tomou a decisão de aceitar Jesus em seu coração. 

Eu o conheci em 2017 e durante dois anos a gente fez discipulado. Tomamos dezenas de litros de café semanalmente  quando nos encontrávamos para ler a Bíblia, falar dos heróis da fé, da família que agrada a Deus, da escolha de cônjuge, sempre orando e chorando juntos. Geralmente no discipulado eu falava 95% do tempo e Petrô, 5%, por que ele preferia ficar calado. Usava palavras como “sim”, “não”, “concordo”, etc. Confesso que foi um dos discipulados mais difíceis que tive. Um cara está na sua frente sempre calado e sem emoções. Chega um momento que você pensa que está perdendo o tempo. Mas o tempo de Deus sempre é diferente do nosso. 

Certo dia Petrô falou: “Quero me batizar”. Assim, em 2018, ele foi batizado. No ano seguinte ele falou: “Quero servir a Deus usando o meu talento na área de internet e nas redes sociais”. E assim foi iniciado o ministério de mídia na igreja, onde ele é um dos líderes. Já em 2019 ele falou: “Quero estudar no seminário”, e em setembro começou os estudos no Seminário Teológico Batista Ucraniano de Lviv. 

Petrô foi um dos organizadores do acampamento de juventude que aconteceu recentemente. Ficamos maravilhados em ver Petrô aberto, cheio de vida, participando dos assuntos espirituais, dando bom testemunho para os outros, esquiando, dirigindo o carro, e o mais importante, cheio de alegria que vem de Jesus. Vale a pena batalhar pelas pessoas. Vale a pena lutar pelos “Petrôs” que estão ao nosso redor. 

Continue firme no Senhor e repasse a alegria de Jesus aos seus “Pedros” e “Mashas”. Que o Senhor lhe abençoe nisso! Ore por nós e pelo nosso trabalho aqui no campo missionário e para que muitos outros "Petrôs" venham a conhecer Jesus como a verdadeira fonte de alegria. 

 

Anatoliy Shmilikhovskyy

Missionário na Ucrânia

 

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