A experiência de ser mulher no Sul da Ásia* é muito diversificada e repleta de oportunidades e desafios. Aqui, existem muitas culturas, línguas, religiões e tradições.

Cheguei no Sudeste Asiático em 1995 e no dia seguinte ouvi falar da cultura e das tradições deste país. Nesse momento, quando fui apresentada à cultura, o que mais me impressionou foi a estrita expectativa da sociedade sobre mim como mulher. Naquela época eu era solteira e estava comprometida em respeitar e me ajustar à cultura. No entanto, a lista de coisas que eu "não podia fazer" me sufocou.

A antiga história desta região, começando na era védica, diz que as mulheres gozavam de uma posição mais elevada. Elas foram educadas, envolvidas em ritos religiosos e algumas até produziram hinos no Rigveda (exceto as da casta intocável). O Rig Veda é um dos livros mais importantes do Hinduísmo, o mais antigo das quatro Vedas. Vedas são livros sagrados neste país. No entanto, à medida que a era védica avançou, os papéis das mulheres passaram a se tornar mais domésticos.

Nos períodos posteriores, a posição das mulheres diminuiu como resultado de práticas patriarcais. As mulheres tornaram-se vítimas de Sati, Purdah, infanticídio feminino, casamento infantil e outras práticas. Purdah, é uma prática iniciada pelos muçulmanos e posteriormente adotada pelos hindus, envolve as mulheres isolando-se da observação pública, escondendo atrás das roupas, incluindo o véu, e usando roupas bem longas. Sati era uma tradição hindu em que uma viúva cometia suicídio deitando-se na pira de seu falecido marido. Ocasionalmente ouvimos falar de casos de sati ou relacionados à crença de sati sendo praticada, apesar de ser ilegal na por aqui.

Vários grupos de comerciantes britânicos começaram a vir para a região em 1600. O domínio britânico começou em 1858 e durou até 1947, quando conquistou a independência da Grã-Bretanha. Vários avanços nos direitos das mulheres foram feitos como resultado do domínio colonial britânico, incluindo a proibição de costumes como o sati e o casamento infantil, e a introdução da educação.

Graças a William Carey, o conhecido missionário batista, a prática do sati foi banida. Ele foi o primeiro a liderar o movimento na luta para acabar com a prática do sati em Calcutá. A sua influência e as enormes mudanças iniciadas por ele, encoraja-me a continuar a acreditar e a ir contra, especialmente o abuso sexual infantil neste país.

Moro aqui há 28 anos e tenho testemunhado as complexidades e lutas que as mulheres enfrentam. Se a mulher for pobre, é ainda mais difícil, e se a mulher em questão pertence a uma casta inferior, é ainda mais difícil. Tudo isso; ser mulher, ser pobre e ser de casta inferior, em uma única pessoa são condições extremamente desfavoráveis.

Em 1998, casei-me com um pastor local e minha casa é uma mistura de cultura brasileira e deste país. No ano 2000, iniciamos um Lar para Crianças. Recebemos mais de 400 crianças no lar infantil. Alguns permaneceram por vários anos, alguns por meses e outros apenas por alguns dias. As autoridades locais trouxeram a maioria deles. A disparidade no número de garotos e garotas revela diversas realidades: discriminação de género, preferência por filhos e uma proporção discrepante entre os sexos. Além disso, é muito difícil resgatar mulheres.

Onde moro nos últimos 22 anos, há uma enorme disparidade de gênero. Nesta comunidade há menos meninas do que meninos. As mulheres aqui sofrem muito como resultado da grande preferência pelos filhos em detrimento das filhas.

Duas meninas foram trazidas para o lar infantil, uma tinha 5 e outra 7 anos. A mãe dessas duas crianças deu à luz a uma terceira filha, o parto aconteceu em casa. A menina nasceu e o pai, num acesso de raiva, matou o bebê e a mãe. Ele foi enviado para a prisão e as crianças foram trazidas para nós. Ele ficou muito zangado com a esposa quando ela deu à luz outra filha, um fardo para o futuro pagar o dote. Este é um dos aspectos mais tristes desta nação.

Outra também veio quando tinha 10 anos. Ela se casou e a filha não foi mandada para a escola. Eu sempre a incentivava a colocar a criança na escola. O marido disse: “Não adianta mandar as filhas para a escola, ela vai para outra casa depois do casamento”.

Ela começou a trabalhar e a maior parte de seu salário era para a educação da filha. Agora, tanto o pai como a mãe estão muito orgulhosos e felizes porque a filha se tornou a melhor aluna da sua sala de aula. Eu considerei esta uma vitória.

Nesta região, assim como em outros países ao redor do mundo, milhões de pessoas sofrem vários tipos de violência. Muitas meninas e mulheres sofrem o crime hediondo de abuso sexual. Até as esposas têm sido estupradas dentro de suas próprias vidas conjugal.

Esta situação é uma grave ameaça à saúde física e mental das vítimas e uma violação dos direitos humanos. O cuidado com as mulheres e garotas deve ser priorizado pela igreja através da educação, programas de desenvolvimento de habilidades, aconselhamento e atividades que promovam a independência econômica e social e aumente a sua autoestima.

A Bíblia diz em Provérbios 31:25 "Força e honra são as suas vestes; ela está confiante no futuro."

Quero continuar defendendo a causa das mulheres e garotas nesta nação. E quero continuar salvando meninas de sofrerem abusos.Pois sei que pelo Poder do Espírito Santo, podemos juntos, Completar essa missão. 

Camila Marques,
missionária no Sul da Ásia

não citamos o nome do país por questões de segurança*

ADOTE A MISSIONÁRIA AQUI