No mês de outubro, tradicionalmente celebra-se o Outubro Rosa, campanha mundial que tem como objetivo principal alertar a sociedade sobre o câncer de mama, segunda principal causa de morte entre mulheres.

Este assunto me toca por três razões em especial. Primeiramente porque já vivenciei de perto a luta contra o câncer de mama, antes mesmo de me tornar médica. Uma tia querida enfrentou a doença por anos, mas, apesar de sua fé, de sua resiliência e dos avanços da medicina, ela não conseguiu vencer a doença e hoje descansa em paz com Deus. Por várias vezes, tive o privilégio de acompanhá-la nas sessões de rádio e quimioterapia.

No dia em que descobri que estava grávida da minha primeira filha, corri para lhe dar a notícia, mas já era tarde demais. Ela faleceu naquele mesmo dia, mas a sua vida e a maneira como enfrentou esta enfermidade foram um poderoso testemunho de fé para mim e para todos que a conheciam. Este episódio comprova que o câncer de mama, assim como todas as doenças, também acomete os crentes, mas também demonstra que a fé é um poderoso recurso no enfrentamento da doença. “Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Rm 14.8)

A segunda razão é porque sou médica Ginecologista e Obstetra, ou seja, especializada em saúde da mulher. Durante a residência médica tive contato com inúmeras mulheres diagnosticadas com câncer de mama, algumas em estágio inicial, outras em estágio avançado. A mamografia tem um papel crucial no diagnóstico precoce, pois é capaz de detectar lesões antes mesmo da formação do nódulo, aumentando significativamente as chances de cura e tratamento. Infelizmente, ainda há muita desinformação sobre o assunto, sobretudo nos países em desenvolvimento, como é o caso do país asiático onde atuo como médica missionária de Missões Mundiais desde 2016. A grande maioria das minhas pacientes sequer sabe a própria idade, não tem registro de nascimento, nem ao menos conhece sobre esta doença, o que torna o desafio ainda maior.

Por fim, a terceira razão, é que tenho uma amiga que está em tratamento contra o câncer de mama. Ela é uma missionária americana, de meia idade, solteira, que há mais de 25 anos serve no campo missionário como enfermeira. Sua história me marcou profundamente, pois, à semelhança da minha tia, ela tem enfrentado a doença e o tratamento de cabeça erguida.

Em 2015 ela foi diagnosticada com câncer de mama, coincidentemente, o mesmo tipo da minha tia. Como o sistema de saúde do país onde servimos é precário e concentrado na capital e nos grandes centros urbanos, ela foi obrigada a retornar para os Estados Unidos para fazer a cirurgia de remoção das mamas. Um ano após iniciar o tratamento, para surpresa de todos, ela já estava de volta ao campo missionário. Perdera seus longos cabelos durante as sessões de quimioterapia, mas sua fé e sua autoestima continuaram inabaladas. Por várias vezes, pediu-me que lavasse o seu cateter, implantado em seu corpo durante a quimioterapia. Sempre que realizava este procedimento era levada a refletir sobre a fragilidade humana, a brevidade da vida e as limitações da ciência, mas também despertada para o poder da fé e a soberania de Deus sobre as doenças, pois, “certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si” (Is 53.4).

Recentemente, conversei com ela pela Internet e, ao falar sobre o tema deste artigo, ela compartilhou comigo que, após realizar seus exames de rotina, foi declarada como “livre do câncer”. Ela também ressaltou a importância do corpo de Cristo para aqueles que estão enfrentando a doença. Com profunda gratidão, lembrou de todas as vezes que recebeu o apoio da igreja, desde o momento em que recebeu o diagnóstico, antes e depois da cirurgia e durante todo o tratamento.  Com grande orgulho me mostrou a parede de seu quarto, que se transformou num painel enorme, cheio de mensagens de apoio, gravuras, versículos bíblicos e orações, que pavimentaram o seu caminho em meio ao vale da sombra da morte. E arrematou: “os grupos de apoio e a família são muito importantes para quem está enfrentando o câncer, mas nada se compara ao apoio que encontramos na igreja”.

 

Priska Masih
Médica Ginecologista e Obstetra e missionária de Missões Mundiais no Sul da Ásia

 

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