Falando sobre tempos difíceis, no mês de junho Missões Mundiais, está dedicando especial atenção à causa da Igreja Perseguida. De forma mais específica, a atenção é sobre aqueles irmãos e irmãs que sofrem restrições físicas, psicológicas e sociais por conta de sua fé.

Aqui em nosso campo no Leste da Ásia essa é a situação. Especialmente nos quesitos psicológicos e sociais as igrejas aqui têm sofrido bastante. Como exemplo, segue o testemunho do Pr. Pedro (pseudônimo), um missionário da terra que também é sustentado pelas igrejas batistas brasileiras. Ele lidera um grupo de várias igrejas e líderes que têm espalhado a mensagem da graça em meio à perseguição. Ele compartilhou um resumo da situação da igreja no sudeste asiático.

“Quando começamos nossos projetos na década de 1990, as restrições e perseguições estavam presentes em nosso dia a dia. Tudo era feito em pequenos grupos e com cuidados extras. Sim, nada era fácil, mas as igrejas nas casas cresciam dia após dia. O fervor missionário era intenso e mesmo com a perseguição, seguíamos felizes com o que o Pai estava fazendo em nosso meio.

Na década de 2000, as restrições ainda estavam presentes com alguns picos de maior intensidade, mas o Pai estava atuando de tal forma por aqui e o número de convertidos era tão grande, que as autoridades passaram a fazer vistas grossas para vários grupos que se reuniam em números maiores de 100, 200 ou 300 pessoas! Nos era ‘permitido’ reunir extra-oficialmente e, com isso, fomos nos acostumando com a situação e passamos a ser muito organizados e a crescer como instituições. Contudo aquela chama inicial havia diminuído de intensidade.

Sempre houve perseguição em nosso campo. Nossa liderança foi por várias vezes convocada para interrogação, recebíamos telefonemas inesperados dos oficiais e aqui no país sempre houve as regiões de maior sensibilidade, nas quais a perseguição era mais severa. Havia também várias regiões onde a situação era de maior tolerância, especialmente nas grandes cidades. As igrejas nas casas passaram a se multiplicar, por vezes nem mais podíamos chamar de pequenos grupos, pois se reuniam 50, 100, 200 pessoas nos fins de semana. Só em nossa rede de igrejas apoiadas pelos irmãos do Brasil eram mais de 30 igrejas, todas elas com no mínimo 50 pessoas, algumas com mais de 300.

O ano em que as coisas começaram a mudar de forma drástica, foi 2018. Todos esses grupos com mais de 50 pessoas passaram a ser visitados com frequência por oficiais. Eles fizeram uma série de exigências para que continuássemos nos reunindo, duas delas eram críticas: entregar os nomes e identidades de todas as pessoas que frequentavam as reuniões e a instalação de câmeras de reconhecimento facial e monitoramento que estariam conectadas com um escritório deles.

Sabíamos que essas eram apenas as primeiras exigências. Cedendo a elas, outras viriam e por isso não aceitamos, mesmo sabendo que isso implicaria sermos impedidos de nos reunir como estávamos acostumados e, possivelmente, prisão, multas e processos contra os líderes. O resultado é que nossos locais de reunião foram interditados e de uma hora para outra não podíamos mais nos reunir, não contávamos mais com ‘as vistas grossas’ do passado. Passamos então a nos encontrar em vários pequenos grupos em diferentes locais, voltando à realidade de 15 anos atrás.

Nossos líderes foram interrogados, alguns tiveram que pagar multas altíssimas por estarem se reunindo de forma ilegal, outros tiveram seus passaportes confiscados e foram impedidos de deixar o país por tempo indeterminado. Alguns ainda acabaram sendo presos (nenhum dos líderes que fazem parte do grupo de igrejas apoiados pelos batistas foi preso, mas muitos passaram por interrogatório e alguns pagaram multas e tiveram seus dados registrados sob ameaça de penalidades futuras).

Muitos irmãos têm sofrido. Eles sentem falta das reuniões maiores. Porém entendemos que esse é um tempo novo e o Senhor tem nos mostrado que esse é um período diferente no qual precisamos resgatar o fervor missionário, nossa paixão pelo Pai e pela mensagem da cruz. Mesmo não sendo a situação ideal, com a pandemia que assola o mundo, temos experimentado um novo tempo e por incrível que pareça, seguimos crescendo nesse tempo de maior perseguição.

Em meio a tudo isso, enviamos nossos primeiros casais de missionários para outros países, um sonho antigo. Eles são 100% sustentados pelo nosso grupo de igrejas e apoiados pela JMM. Antes tínhamos mais de 30 igrejas em nossa rede de relacionamentos, com as restrições tivemos que dividir em pequenos grupos que se tornaram pequenas igrejas e hoje não conseguimos calcular exatamente, mas com certeza temos mais de 100 ‘pequenas igrejas'. Todas conectadas e experimentando um tempo de maior comunhão e crescimento em maturidade.

Ainda precisamos nos adaptar a várias situações e as restrições que mencionamos só têm aumentado. Contudo, estamos certos de que, no Senhor, vamos seguir em frente. Porque, independentemente de quão intensa seja a perseguição, a Palavra do Evangelho nunca ficará restrita. E o Pai nos prometeu que estaria conosco no meio das aflições e isso nos basta”.

Sabemos que você já tem orado, mas gostaríamos de pedir que intensificasse as suas intercessões pela igreja perseguida neste mês. Continue nos ajudando a transformar o mundo com a alegria de Jesus, sustentando em ofertas e oração a causa da igreja perseguida.


Ael e Bel Oliveira
Missionários no Leste Asiático