Este já está sendo um Ramadã bem diferente. O surto do coronavírus está derrubando tradições religiosas que duraram mais de 1.400 anos. A exemplo dos judeus durante o Pessach (Libertação) e dos cristãos durante a Páscoa, os quase 2 bilhões de muçulmanos de todo o mundo não estão sendo capazes de realizar suas festividades e orações comunitárias, uma marca registrada do mês mais sagrado do islamismo.

A pandemia obrigou muitos governos a ordenar restrições a viagens, reuniões e orações coletivas de pessoas, algo que o mundo islâmico nunca tinha visto antes. As mesquitas que os fiéis lotam durante o Ramadã estão hoje vazias ou com uma participação bem limitada.

Em Meca, na Arábia Saudita, as portas da Kaaba (o local mais sagrado do mundo para os muçulmanos) costumam ficar cheias de fiéis durante o Ramadã. Hoje, elas estão fechadas. Da mesma forma, a Masjid al-Nabawi (a mesquita onde se encontra o túmulo do profeta Muhammad). A maior autoridade religiosa da Arábia Saudita disse às pessoas para orar em casa, incluindo as orações especiais noturnas do Ramadã chamadas Taraweeh, que levam multidões às mesquitas.

No Irã (centro do Islamismo xiita), durante um discurso televisionado, o líder supremo aiatolá disse às pessoas que orassem em casa. A alguns milhares de quilômetros a leste, no país islâmico mais populoso do mundo, a Indonésia, muçulmanos enfrentam restrições às atividades relacionadas ao Ramadã. O país também proibiu viagens durante o mês sagrado, forçando dezenas de milhões a passarem as festividades longe da família.

O mesmo ocorre na mais antiga universidade muçulmana do mundo, Jamia al-Azhar, no Egito. O famoso centro de ensino (coração teológico do Islã) que abriu suas portas em 972 d.C. está fechado desde o mês passado, junto com todas as mesquitas do país, apesar de ainda poderem transmitir as chamadas para a oração pelos alto-falantes.

 No entanto, não foram todos os países que cederam à pressão do isolamento causado pela Covid-19. No Paquistão, os clérigos ameaçaram se revoltar contra a política do governo de limitar os fiéis a entrarem apenas cinco pessoas de cada vez nas mesquitas. O governo cedeu e permitiu que mantivessem as mesquitas abertas durante o Ramadã, mas com algumas diretrizes de segurança. Situação similar no vizinho Afeganistão, um país devastado pela guerra que já está lidando com a escassez de kits de testes para o coronavírus e medidas de isolamento. As autoridades de saúde dos dois países temem que as diretrizes possam ser difíceis de implementar e o número de infectados se multiplique exponencialmente durante o Ramadã.

Ao fim do Ramadã é quando tem inicio as festividades do Eiid al-Fitr, tempo das famílias, sempre numerosas, se aglomerarem durante três dias de muitas festas. Porém, já há proibições quase globais quanto a isso diante dos efeitos da pandemia.

Que o Eterno possa proporcionar aos missionários espalhados por todo o mundo islâmico, preciosas oportunidades de serem luz para os seus amigos e vizinhos muçulmanos com palavras de esperança, amor e fé. E que a relação entre o mês sagrado dos muçulmanos e a pandemia traga reflexão para toda a comunidade islâmica mundial. Assim como disse um humilde comerciante da Síria numa entrevista à TV: “Ao mesmo tempo em que a Covid-19 conseguiu deter alguns conflitos bélicos por aqui, ela também trouxe reflexão, pois hoje, todos podem fazer uma pausa para ver onde de fato estão. O mundo precisa mudar. E talvez desta vez aconteça de verdade.

 

Paz - السلام 

Pr Caleb Mubarak
Missionário no Mundo Árabe

 

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