Neste mês das crianças, a nossa missionária Denise Santos escreveu um artigo para o Projeto Calçada sobre a importância de brincar e como Deus age nas coisas mais simples. Confira:

O brincar como estratégia divina para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais

Por que será que toda criança ama brincar? Seja sozinha ou acompanhada, com brinquedos ou no imaginário, toda criança aprecia os momentos que passa brincando. Essa atividade muito prazerosa também representa uma das principais formas de expressão na infância, revelando as emoções e o produto da imaginação.

É uma atividade que encontra fim em si mesmo além de ser uma condição essencial para o desenvolvimento da criança. Quando explora o lúdico através de jogos didáticos, dos brinquedos, quando brinca livremente e se relaciona com seus pares e com os adultos, a criança constrói pontes entre o seu mundo interior e o exterior.

Pela brincadeira a criança vai estruturando suas emoções e experimentando seus sentimentos. A partir do sentir ela desenvolve símbolos e significados tornando-se apta para lidar com as situações da vida, ela vai evoluindo em sua estruturação cerebral. Brincando, a criança vai afirmando sua personalidade e acomodando seu comportamento, desenvolvendo a criatividade, a capacidade de expressar seus desejos e medos, e de controlar seus impulsos.

Embora a importância do brincar tenha sido reconhecida mundialmente e assegurada pela Declaração Universal dos Direitos da Criança (Princípio VII), muitas delas, especialmente as que estão em situação de vulnerabilidade social, não têm gozado deste e de outros direitos. Justamente para quem o brincar se apresenta como uma excelente estratégia para a elaboração das experiências traumáticas.

Através do profeta Zacarias, Deus aponta que um ambiente de paz e segurança permite que as crianças corram e brinquem livremente (8:5).

Pela brincadeira são expressas as situações vividas e os sentimentos gerados por elas (Mello,1999). Emoções, como medo e angústia, vêm à tona e são drenadas através do brincar da criança que sofreu violência (Melo e Valle,2005).

Para Dias Facci (2004; p.69) o brincar “é influenciado pelas atividades humanas e pelas relações entre as pessoas” e o conteúdo da brincadeira é definido pela percepção que a criança tem do mundo.

Por seu caráter complexo e multidimensional, o ato de brincar amplia não só o domínio motor e cognitivo, mas também o socioemocional pois relaciona práticas sociais e estimula a inteligência emocional promovendo a relação da criança com o mundo à sua volta.

Segundo Lippman et al (2015), às habilidades socioemocionais referem-se a um vasto conjunto de aptidões, competências, comportamentos, atitudes, e qualidades pessoais que permitem que as pessoas possam efetivamente se integrar no seu ambiente, se relacionar bem com outros, ter um bom desempenho e atingir os seus objetivos. Desenvolver essas habilidades implica em promover as atitudes e comportamentos que ajudarão o indivíduo a lidar, desde a infância, de maneira ética e eficaz com as situações do cotidiano.

Através do brincar e das práticas e interações com seus pares e educadores, a criança desenvolve a autoconsciência, autogerenciamento, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável, desenvolvendo desde a tenra idade habilidades como a empatia, o pensar e refletir antes da ação, a resiliência, autoconfiança, responsabilidade, a curiosidade e a criatividade. O próprio Jesus, em sua infância, experimentou esse crescimento em graça e conhecimento

(Lucas 2:52).

A aquisição dessas competências promove a transformação de diversas áreas da vida da criança, preparando-a para uma melhor compreensão do mundo, conferindo um olhar investigativo e crítico, ajudando no sonho do projeto de vida, promovendo equidade e gerando grande impacto nos indicadores sociais. As habilidades socioemocionais são essenciais para a formação dos cidadãos, tornando-os aptos para viverem numa cultura de paz.

Se olharmos para a relação que a criança desenvolve com o brincar, considerando sua capacidade de transcendência, podemos entender que ela possui a habilidade natural de apreciar as relações com a natureza, com seus pares e com o divino. Ela está aberta às emoções e ao mistério e aceita com facilidade as coisas de Deus, com forte predisposição para desenvolver as habilidades socioemocionais que lhes são inatas. Jesus já chamava a atenção para este fato quando exortava sobre a necessidade de agirmos como as crianças para alcançarmos o Reino dos céus (Mateus 18:3).

Quando as crianças correram em direção a Jesus para abraçá-lo e, quem sabe, convidá-lo para brincar, foram bruscamente interrompidas e afastadas pelos discípulos, talvez as crianças estivessem brincando, correndo, fazendo barulho, mas certamente estavam atentas a tudo que acontecia ao redor (Mateus 19:13). Como discípulos de Jesus devemos seguir seus ensinamentos e estar atentos para abrir caminho, permitindo que as crianças cheguem até Ele.

Enquanto seres sociais, elas apreciam brincar em companhia de seus pares e dos adultos, por isso muitas vezes Deus está de brincadeira em meio a estas interações. Deus está disponível para brincar junto com você e uma criança.

Sempre que uma criança está brincando e descobrindo o mundo ao seu redor, interagindo com seus amigos e aprendendo a lidar com suas próprias emoções, Deus está de brincadeira. Deus está usando habilidades que Ele mesmo plantou em sua natureza para forjá-la para seu propósito. O brincar é uma das mais belas estratégias divinas para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais.

 

Referências:

BIBLIA ONLINE. Disponível em: www.bibliaonline.com.br.
DIAS FACCI, M. G. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na
perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vygotsky. Cadernos Cedes. v. 24, n. 62, p. 64-81,
2004.
LIPPMAN ET AL. Workforce connections. Key “soft skills” that foster youth
workforce success: toward a consensus across fields. Child Trends Publication:
Disponível em: https://www.childtrends.org/wp-content/uploads/2015/06/2015-
24WFCSoftSkills1.pdf

MELLO, A. C. M. P. C. O brincar de crianças vítimas de violência física
doméstica. 1999, Tese de doutorado. Psicologia escolar e do desenvolvimento
humano. Universidade de São Paulo. São Paulo.
MELLO, L.L.; VALLE, E.R.M. O brinquedo e o brincar no desenvolvimento infantil.
Psicologia argumento. Vol.23, n. 40, p.43-48,2005.
NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos das Crianças,1959.
Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br/index.

 

 

Denise A.S.Santos
Licenciada em Ciências da Educação pela Université Catholique de Bourgogne –
Dijon- France. Especialização em Gestão Escolar pela Université Gaston Berger –
Sénégal , Mestranda em Supervisão Pedagógica pela Uab Portugal.