Para celebrar março, conhecido internacionalmente como o mês da mulher, Missões Mundiais lança uma série de eventos nas igrejas da Convenção Batista Brasileira. O culto Elas pelo Mundo estará toda semana, sempre em uma igreja diferente, com uma missionária de Missões Mundiais levando aos irmãos uma palavra sobre chamado, ações e desafios, fazendo todos, mulheres e homens, refletirem sobre o seu papel no Reino. Uma iniciativa de vanguarda, que visa valorizar ainda mais as ações das missionárias da JMM.

Por que um evento sobre mulheres também para homens? Porque é de extrema importância que todos os homens reconheçam e valorizem a participação das mulheres na obra missionária. Afinal, elas são altamente competentes no cumprimento do seu chamado, como bem destaca a missionária Carmen Lígia em entrevista que você lê a seguir.

Como você vê a proposta do Elas pelo Mundo?
Carmen Lígia:
Amei a ideia. Quando soube que Missões Mundiais dedicaria um culto voltado para o que nós, missionárias, estamos promovendo nos campos para levar o Evangelho, meu coração se encheu de alegria. Vamos impactar as igrejas com o que Deus esta fazendo no mundo através das mulheres.

Como e quando descobriu que este era o seu chamado?
Nunca fui uma menina extrovertida, pelo contrário, era muito quieta diante do desconhecido e de nenhuma maneira podia enfrentar qualquer público, até mesmo as minhas companheiras das Mensageiras do Rei. Sempre pensava que para ser missionária deveria ser muito comunicativa. Por isso, relutei tanto quando senti o chamado de Deus para levar o Evangelho a outros países. Lutei com Deus citando nomes de amigos que, dentro do meu conceito, tinham muito melhor perfil do que eu.  Não me sentia capaz de nenhuma maneira, até que Deus me confrontou e me confirmou que Ele seria o responsável por me capacitar. Foi assim que surpreendi a minha família e a toda a minha igreja, Primeira Igreja Batista do Retiro – Volta Redonda/RJ, quando durante um culto missionário, passei adiante entregando a minha vida a Deus! Depois disso, tudo começou a mudar! Estudei no IBER -- Instituto Batista de Educação Religiosa – hoje Centro Integrado de Educação e Missões – CIEM, realizando um curso de educação religiosa, mas com ênfases em missões.  Tudo o que estudei me ajudou muito no campo missionário.   Tive que praticar tudo o que aprendi no trabalho com crianças, adolescentes, jovens, adultos, anciãos... Trabalhei na área de educação religiosa preparando professores, dando aulas nos seminários e até mesmo organizando institutos de capacitação de líderes.  Trabalhei na área de teologia colocando em prática tudo o que aprendi, porque precisei pregar e ensinar a pregar, usando e aplicando corretamente a Bíblia.  As aulas de missiologia, evangelismo, plantação de igrejas, entre outras, foram a minha força, porque fui enviada para plantar igrejas. 

Você é solteira. Acha que se estivesse casada teria algum tipo de limitação para o trabalho que faz atualmente? Por quê?
É muito claro que as casadas precisam priorizar os cuidados do esposo, filhos e casa. Como missionária solteira no campo tenho mais liberdade para coordenar o meu tempo e assim posso desenvolver um ministério muito produtivo.  No início é sempre difícil, mas quando aprendemos a priorizar Deus 24 horas na nossa vida, tudo fica muito mais fácil. Cada segunda-feira é o meu dia de descanso e procuro me arrumar bem, sair para passear, comprar algo para mim, sair sempre da minha rotina de trabalho, sem envolver pessoas que são meus liderados para que o dia seja sempre “meu”. Creio que ao estar sozinha, somente enfrento situações diferentes dos casais.  Não creio que seja mais difícil ou mais fácil estar sem um companheiro, mas tenho que admitir que ter alguém para compartir as lutas diárias deve ajudar muito. Mas ao mesmo tempo, nunca foi impedimento para fazer a obra como Deus nos manda fazer. O segredo está em ser feliz sempre, estando solteira ou casada.

Ainda é difícil para uma mulher conquistar espaço e mostrar que é tão capacitada quanto os homens para a obra missionária?
Sempre foi e ainda é muito difícil. Algumas agências missionárias, ou muitas delas, dão algum tipo de valor ao ministério da mulher, mas um espaço na liderança diante de homens, precisamos conquistar com garras.  Antônia Van Der Meer, diz no livro Solteiros, mas não solitários: “Nós não pedimos espaço por sermos mulheres, mas por causa dos dons que o Senhor nos deu para servir ao corpo”. Vivemos em um mundo onde a maioria das pessoas, incluindo muitas mulheres, acreditam firmemente e defendem a posição de que o ministério é somente para os homens e que o papel das mulheres é cuidar da casa e na, igreja, ser professora de crianças. É um espaço que precisamos conquistar com muita oração e perseverança ao ter a certeza de que Deus nos chamou e nos usará dentro da Sua vontade. Já estive em campos missionários onde as esposas dos pastores e missionários locais nem mesmo podiam participar das assembleias convencionais ou reuniões de líderes. As mulheres ficavam do lado de fora, cuidando das crianças e esperando os esposos para almoçar. Como eu estava implantando uma igreja e na direção da mesma, sem um esposo, enfrentei o desafio e participei das reuniões, mesmo diante de alguns contrários. No segundo dia já me escutavam e queriam saber a minha opinião. No ano seguinte, a reunião convencional estava repleta de mulheres, entre elas muitas esposas dos pastores. Creio que precisamos saber que Deus nos deu ministérios para desenvolver, independentemente de sermos mulheres ou homens, e o maior ministério é resgatar vidas, o que fazemos muito bem quando entendemos que o IDE é para todos e todas!

Há diferenças entre homens e mulheres no cumprimento do chamado?
Pelo fato de o homem ser racional em sua formação biológica desde o Éden, sua resposta ao chamado de Deus enfrenta várias resistências no campo da lógica. Mulheres tem uma cosmovisão muito mais emotiva do que racional. Elas pensam com o coração. Por isso se entregam muito mais à vontade divina, com um número menor de resistência. Moisés ao receber o chamado tentou se esquivar, tentou negociar, tentou passar a tarefa para outro, assim como Gideão. Mas Maria prontamente respondeu: Cumpra-se a vontade do Senhor sobre a tua serva!

Muito se fala nas dificuldades em ser mulher e solteira no campo. Mas acha que teve alguma situação mais fácil que, talvez um homem não tivesse?
Como mulher tenho mais livre acesso para evangelização de mulheres e crianças, o que abre a porta para chegar até os homens nas casas. Creio que isso é um ponto muito positivo para nós, mulheres. Já comecei igrejas trabalhando com as crianças e alcançando os pais, o que levou à participação de 11 homens no primeiro grupo de batismos. E seguindo a eclesiologia batista, esperamos até que um pastor pudesse ir à cidade e realizar os batismos. Não creio de nenhuma maneira que temos dificuldades por sermos mulheres solteiras, mas creio que Deus nos chamou por igual e quer nos usar por igual, sem preconceitos e sem prejuízos. Guardadas as devidas exceções de culturas machistas, homens e mulheres possuem as mesmas competências no campo missionário.

Nesta caminhada como missionária poderia citar pessoas que te inspiraram e ajudaram?
Estou este ano completando 32 anos trabalhando no campo de Missões Mundiais. Estive trabalhando por 5 anos na Bolívia, logo fui enviada para a República Dominicana onde estive durante 8 anos, fui logo para Cabo Verde onde trabalhei durante 4 anos e agora estou completando 15 anos de trabalho em terras colombianas. Cheguei ao campo como resultado de um grande amor por missões que foi plantado no meu coração quando ainda era Mensageira do Rei, lendo histórias e aventuras dos missionários que desbravaram cidades e países para levar o Evangelho da salvação. O primeiro livro que li foi “Aventuras em terras bolivianas”, de autoria do pastor Waldomiro Motta, que começou a mexer com o meu coração. Os missionários eram meus heróis. Lia as revistas e vibrava com cada testemunho e histórias de conversões. Recebi apoio da minha família, do meu pastor e de toda a minha igreja, que foi essencial para que eu pudesse cumprir o chamado. 

O que a motiva a continuar após tantos anos?
1º. Saber que o mesmo Deus que me chamou e me enviou, está comigo para me capacitar para enfrentar qualquer situação nova que possa surgir.
2º. O problema que estou enfrentando hoje será somente um “passado” amanhã. Deus sempre permite um tempo de crises hoje para me ensinar a sobreviver a algo mais forte amanhã.
3º. Ver uma vida transformada pelo poder de Deus sempre vale e é a minha recompensa para qualquer esforço.
4º. Quando amamos o povo e o país que Deus nos deu para trabalhar como missionários, passamos a adotar uma cidadania diferente. Hoje sinto que sou um pouco boliviana, dominicana, caboverdiana e agora colombiana, não somente por viver com eles, mas por amá-los com todo o meu coração como minha família.

Qual o conselho que você daria a meninas que sonham em um dia ser missionária?
Que usem todas as oportunidades que tiverem para falar de Jesus com todos os amigos, familiares ou com as pessoas que Deus colocar diante delas nas ruas, na padaria, no ônibus, na escola...  As pessoas estão ansiosas por conhecer a Deus e ter esperança, e elas precisam ter suas vidas transformadas pela alegria de Jesus aqui na Colômbia e no Brasil. Todas somos chamadas para sermos missionárias e compartilharmos do amor de Deus onde estamos. Se Deus está lhe chamando para ser uma missionária fora da sua cidade ou fora do Brasil, aceite o convite e deixe que Deus lhe prepare para a tarefa, porque a melhor escolha que podemos fazer na vida é a de servir a Deus.

 

 

por Marcia Pinheiro