O mês de outubro no Brasil é considerado o Mês das Crianças. Neste tempo muitas ações evangelísticas são direcionadas ao público infantil. As crianças são preciosidades do Senhor e a Palavra de Deus plantada no coração de uma criança pode crescer com força, dar frutos e, futuramente, transformá-la em um novo semeador.

Quero compartilhar a história de vida de um pequeno menino africano, de cinco anos, chamado Mohamed. Ele nasceu, literalmente falando, dentro da maior prisão feminina da República da Guiné, localizada na capital Conacri. Enquanto estava grávida, sua mãe cometeu um grave delito resultando em prisão imediata. Quando o menino Mohamed nasceu, a família da mãe, que habitava em um vilarejo extremamente pobre, não tinha recursos para sustentá-lo; e a decisão então foi que o menino viveria com a mãe na prisão.

Quando nossa equipe começou a desenvolver o projeto missionário de Capelania Prisional entre mulheres, encontramos ali Mohamed. A presença daquela criança na prisão, vivendo como se fosse um prisioneiro, incomodava nosso coração. Sempre que perguntávamos a outras pessoas experientes que, antes de nós tinham realizado algum trabalho missionário na prisão, recebíamos o conselho de que o problema de haver crianças morando nas prisões da África era algo muito complexo e "não valia a pena" mexer com isso. Era melhor que concentrássemos nossos esforços em pregar o Evangelho e deixar para lá as questões sociais.

Entretanto, para nossa equipe era inaceitável pregar o Evangelho e fechar os olhos para as questões sociais. Compreendíamos plenamente que nossa missão era pregar a mensagem da Bíblia em palavras e também em ação. Dentro da prisão, costumávamos reunir grupos de mulheres que sentavam-se conosco para ouvir histórias bíblicas pela estratégia missionária chamada POB – Apresentação Oral da Bíblia.

O menino Mohamed, assim que entrávamos na prisão, vinha nos abraçar e logo chamava sua mãe, muçulmana, para vir se sentar e ouvir as histórias sobre Jesus. Constantemente orávamos pelas mulheres e por Mohamed. Até que um dia tivemos uma ideia abençoada.

Pensamos na possibilidade de encaminhar o menino para um lugar onde ele poderia ser livre, brincar, ir à escola e se relacionar com outras crianças. Conhecíamos um orfanato administrado por um casal cristão e, em conversas anteriores com a mãe de Mohamed, já era de nosso conhecimento que ela sofria muito em ver seu filho crescendo como prisioneiro, sem nunca ter cometido um delito. Seu sonho era que ele pudesse morar em família e desfrutar de uma vida saudável na infância.

Começamos a ir de um departamento para o outro, numa eterna burocracia, cujo diretor da prisão dizia não ser responsabilidade dele e a juíza do ministério da infância nos jogava novamente para o diretor da prisão. Fomos orientados por um cristão advogado a conseguir a garantia da vaga do orfanato e a pedir à mãe de Mohamed que escrevesse uma carta expressando seu desejo de enviar o filho para viver em um orfanato durante seu período de cumprimento da pena.

Durante o longo processo, pessoas de muitos lugares nos sustentavam em oração. A juíza da infância, depois de muita espera e burocracia, resolveu atender ao nosso pedido. Glória a Deus. O menino sairia, então, da prisão. O acordo judicial garantia à criança o direito de ir visitar sua mãe na prisão e de que sua guarda seria devolvida, automaticamente, à mãe no término de sua pena.

Foi um dia de muita alegria para toda nossa equipe missionária e para todos aqueles que nos ajudaram no decorrer do processo, quando o menino Mohamed pegou seus pertences, vestiu uma roupa bonita que tinha ganhado, se despediu de sua mãe em uma mistura de lágrimas e alegria, e saiu da prisão.

No caminho para o orfanato, ficou maravilhado com tudo que via nas ruas. Era a primeira vez que ele entrava em contato com o mundo fora da prisão. O trânsito, as lojas, o movimento das pessoas nas ruas era um mundo completamente desconhecido pra ele. Ao chegamos ao orfanato foi nítida a sua alegria em ver tantas crianças.

Quando o casal administrador do orfanato, lhe mostrou onde seria sua cama e que ele teria um lugar no armário reservado para guardar os seus pertencentes, ficou impressionado. Antes dormia numa esteira no chão da prisão e suas coisas viviam espalhadas. No orfanato recebeu material escolar e foi matriculado na escola maternal, passando a usufruir de uma vida com oportunidades e liberdade, que é o seu direito!

Glorificamos a Deus, por sua bondade e seus milagres. Quando alguém pergunta para Mohamed como ele saiu da prisão, ele responde: "Jesus me tirou da prisão". A história de Mohamed é um milagre. Nosso coração se enche de alegria e louvores a Deus, por ter tornado isso possível.

Jesus disse: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas" (Mateus 19.14). Obedecer todas as palavras de Jesus é nossa missão. É com grande alegria que compartilhamos a história de Mohamed e queremos que saiba que você também faz parte desta história aos nos apoiar em recursos e sustentar em oração.

Continuem orando pelo Mohamed e pela salvação de sua mãe que ficou extremamente tocada pela ação. Ore pelas vidas das muitas outras crianças que vivem com suas mães nos interiores de prisões africanas.

O esforço valeu a pena e foi alegria e privilégio! Que possamos prosseguir compartilhando o Evangelho e transformando a vida dessas mães e seus filhos com a alegria de Jesus.

 

Silas Fernandes

Missionário na República da Guiné 

 

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