“Melhor é serem quatro do que um, porque, tem melhor resultado seu trabalho. Se um cair, tem gente pra ajudar a levantar e... gargalhar; se o carro der problema, um fica no volante e três podem empurrar; se o carro não funcionar, você já tem o auditório para suas historias contar; se o socorro demorar chegar, você tem companheiros para descobrir formas incríveis nas nuvens ou  estrelas contar. Mesmo em meio ao perigo, com possíveis problemas com animais da selva ou pessoas más, você se distrai e não vê o tempo passar... Um cordão de CINCO dobras, não é tão fácil de se quebrar.” - (parafraseando Eclesiastes 9.4-12 ao relembrar experiências missionárias vividas em família). 

Estive no campo missionário transcultural pela primeira vez em 1997, na época, jovem e solteira, foi uma experiência incrível, em Angola. Anos depois, já casada, estivemos eu e meu esposo, Antonio, na Bolívia, tempos em que fomos nutridos com o carinho e amabilidade dos nossos irmãos bolivianos. Porém, foi a partir do ano de 2006 que a vida engajada em missões tomou uma nova dimensão. Estar no campo missionário solteira é bom, casada é ótimo, mas em família é um grande e maravilhoso desafio. 

Estamos há 14 anos em terras africanas, temos dois filhos, Débora, que completará 15 anos em junho, e Davi, que está com 11 anos. 

Contrariando o que alguns pensam, nós cremos piamente que o chamado missionário envolve a família. Foi assim quando o Senhor chamou Abraão. O patriarca não saiu sozinho, mas, juntamente com sua família, obedeceu, crendo que nele seriam “benditas todas as famílias da Terra”. Por esta razão, entendemos que cada membro da família é um elemento importante para que o Senhor realize a obra Dele, manifestando Seu poder e Glória e atraindo as pessoas a Ele.

Quando chegamos em Moçambique, Débora tinha um ano de idade, aprendeu a falar em Moçambique. Portanto, Débora e Davi cresceram no campo missionário e, desde tenra idade, sempre se envolveram na obra do Senhor. Mesmo quando ainda não tinham consciência desta responsabilidade, o Senhor os usava de forma muito especial. Quantas vezes, quando estávamos realizando visitas evangelísticas, às vezes éramos dispensados antes de ter oportunidade de compartilhar a Palavra, porém bastava um sorriso de Débora e tchau no sotaque moçambicano, que as pessoas ficavam curiosas e se dispunham a abrir suas portas para ouvir a mensagem.

Sabemos que a melhor forma de ensinar é pelo exemplo. Por isso, as crianças sempre estiveram conosco nas atividades que realizamos. Esta experiência somada aos nossos cultos domésticos, rapidamente proporcionou-lhes uma carga de conhecimento que possibilitou à Débora, a partir dos seus 7 anos, assumir a liderança do trabalho com crianças. Normalmente, ela contava as histórias em português ou inglês e um adulto fazia a tradução.

Quando Débora fez 13 anos, ela seguiu para a escola interna, Davi, que até então a apoiava nas atividades, passou a trabalhar com as crianças. Mas uma experiência muito especial na qual vimos a ação do Senhor, foi quando estávamos planejando a plantação de uma igreja em uma das vilas no Norte de Gana. Normalmente, há uma liderança local e todo um ritual para se falar com o régulo (rei local). Neste lugar especifico, o rei era muito duro. Havia alguns meses que um pastor de uma vila vizinha tentava marcar uma reunião com ele e não conseguia. Finalmente, apos muitas tentativas, conseguimos a reunião para a autorização para plantarmos a igreja. Quando já estávamos nos despedindo, Davi falou no ouvido do pai para pedir autorização para termos um terreno. O rei observou a atitude do Davi e ficou curioso. Depois que o pai expressou a preocupação do Davi, o rei ficou maravilhado e iniciou uma longa conversa com ele sobre vários assuntos, ao ponto de, quando alguém veio informar ao rei que havia outras pessoas querendo falar-lhe, ele apenas fez um sinal para que se calassem e continuou a conversa com Davi.

Meses depois, estávamos realizando uma campanha evangelística na vila e Davi decidiu visitar o rei para compartilhar o Evangelho. Os líderes da cidade falaram que seria muito difícil, pois isto deveria ter sido pedido com antecedência. Porém, como Davi insistiu, os líderes foram ao rei e o rei imediatamente mandou chamar-lhe. Naquele dia Davi foi acompanhado com o pai e o pastor da vila vizinha, porém, a audiência foi autorizada para Davi e o Senhor o usou de forma poderosa. Ao concluir o plano de salvação com o desafio de aceitar a Jesus, o rei estava impactado e afirmou que aquela era uma decisão que não era fácil de ser tomada, porém Davi o encorajou e se dispôs a orar com ele. Então o rei fez sua oração reconhecendo-se como pecador e aceitando a salvação em Jesus. 

Embora desfrutemos de experiências edificantes em família, não podemos nos esquecer que a obra missionária se realiza em um contexto de lutas  e grandes desafios: doenças tropicais como malária e febre tifóide, infecção intestinal, invasões de bandidos na casa, carro quebrado em lugares desertos, ansiedade, medo, enfim, temores internos e externos nos afligem constantemente. Porém, o mais importante é que o Deus que consola os abatidos tem nos fortificado e animado. 

Um dos grandes instrumentos do Pai para nos fazer permanecer no campo missionário não é outro a não ser a igreja brasileira. A atitude dos nossos irmãos no Brasil tem acalmado nossos corações e tem feito com que a nossa alegria transborde em meio às tribulações, alimentando em nós o desejo de permanecer e obedecer ao mandamento missionário do Pai. E assim, apesar de todas as lutas, o Senhor tem operado maravilhas, igrejas têm sido plantadas, líderes tem sido formados e o Evangelho tem se espalhado e frutificado por onde o Senhor tem nos conduzido.

 

Sirley da Silva (família Antonio, Débora e Davi)
missionários na África Oriental

 

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