Vivemos momentos de "pós-ciclone". Muitas casas estão sem teto, pessoas ainda sem abrigo, vivendo em tendas. Há muita fome. Mas quando a Bíblia diz que se não formos como crianças não entraremos no reino de Deus, é algo muito verdadeiro. Porque em momentos como esses a fé das crianças moçambicanas nos inspira.

Juju completou 3 anos no dia 28 de outubro. Sua mãe é muito jovem e tem o vírus HIV; está muito debilitada. Elas passam muitas necessidades e quando estão mais apertadas, sempre se aproximam da nossa igreja.

Recentemente, a mãe de Juju veio em busca de medicamento e contou a última da filha. Ela preparava a menina para ir à escolinha e disse: “Juju, a mama não tem bolacha hoje”. A menina respondeu: “Não faz mal mamãe. Bolacha Jesus vai dar”. A mãe repetiu que não tinha bolacha, e ela devolveu: “Jesus vai dar”. Ela concordou sem chorar, acreditando que Jesus iria prover seu biscoito.

“Vamos, então, para a escolinha”, disse a mãe, que lhe segurava pelas mãos quando entraram no pátio. Juju, quando viu uma das professoras, largou as mãos da mãe, correu para a professora que estava abaixada e se lançou ao pescoço dela, dando um forte abraço. A professora, comovida com aquele abraço tão espontâneo, colocou as mãos no bolso e retirou um pacotinho de biscoitos e o entregou à Juju. A mãe, parada, assistiu à cena; entregou-lhe a mochila enquanto ela, no colo da professora, abanava o pacotinho de biscoito e dizia: “Viu, mama, não falei que Jesus ia me dar bolacha?”.

Quando ouvi a história me senti profundamente tocada por tamanha fé, e a grande providência de Deus. O fato me fez refletir no quanto Deus é generoso, usando sua vida para nos apoiar, para nosso sustento, e para “a bolacha” do nosso povo – particularmente das nossas crianças.

Para nós, aqui em Moçambique, tudo é desafio; as reconstruções, as enfermidades e a falta de alimentação para o povo. Mas sei que Deus está no controle. Ele é provedor, usa homens e mulheres, mas acima de tudo a nossa fé, por mais pequenina que seja. Então, continue conosco! Ore, porque os dias estão difíceis.

Os pacientes do Projeto Vida estão morrendo. Perdemos, em menos de um mês, duas crianças: uma na Escola El Shadday e outra na creche. Já são três, desde maio, com malária e outras complicações.

Não conseguimos vencer os números de casas ainda por reconstruir e ver as pessoas desesperadas andando atrás de nós, o que deixa nosso coração ferido.

Estamos em tempo de eleições e estão atacando os carros nas estradas. No Norte do país há uma verdadeira chacina; grupos muçulmanos matando e reivindicando os ataques. Sei que no Brasil as coisas também não estão fáceis, e não podemos nos assustar, pois Jesus avisou que seria assim. Mas juntos, unidos em oração, no exercício da nossa fé, vamos agradar a Deus e fazer a obra de missões em Moçambique e no mundo continuar.

Ore pela reconstrução de nossa cidade, pela segurança e saúde da minha família, por alimentação para o nosso povo e pela pregação do Evangelho.

 

Noêmia Cessito
missionária em Moçambique