O texto a seguir foi extraído da pregação do Pr. João Marcos no XXII Retiro da Ordem Dos Pastores Batistas Brasileiros Na América Do Norte que aconteceu na Igreja Batista Nações Unidas USA, em Julho (2025).

É sempre um desafio falar para pastores. Eu sempre fico pensando: o que a gente pode acrescentar um para o outro? Porque, vamos falar a verdade: o que eu sei, vocês sabem; o que eu não sei, talvez vocês saibam. O importante — eu aprendi isso — é que a gente tem que relembrar. Mais importante do que descobrir coisas novas é relembrar o que é importante, relembrar o que é fundamental. Então, quando pensei em falar para vocês sobre o tema “Provisão de Deus para o ministério pastoral”, procurei alguns textos, mas no fim fiquei com o Salmo 23 mesmo. 

A primeira coisa que a gente tem que lembrar ao olhar para esse texto é o significado da palavra “Senhor” nesse texto: na verdade, YHWH, a palavra que está escrita ali. Não tem tradução.  “Eu sou o que sou, o que sempre foi, o que sempre será. Eu sou eterno”. Mas “eterno” também não significa tudo o que é, porque na nossa cabeça eterno é algo que não tem fim. Eterno é completamente impossível de entendermos, porque se você compreende algo, você o limita. 

Este Ser — o Eterno — não precisa de ninguém, nem de nada. Ele é o único que se basta. Mas nos criou deixou algo de si em nós, o seu Espírito, o seu sopro. E nisso também nos deixou a possibilidade de escolher. Tendo escolhido desobedecer, fomos por Ele alcançados de novo. O que é interessante é que este Ser poderia ter feito qualquer coisa conosco depois de ter nos criado e de nós termos O abandonarmos de forma violenta e rebelde, mas esse texto diz que Ele é o nosso Pastor. Ele decidiu nos pastorear.

Ele não nos “cultivou”, Ele não nos “beneficiou” (usando a ideia da indústria, da manufatura). Nesses casos, há algum envolvimento do criador com a criatura, do artífice com o que é feito; mas na pecuária ovina, há envolvimento direto, não apenas cotidiano, mas diuturno. Você não bate ponto, não entra às 08h e sai às 17h quando tem ovelha. Ele decidiu que estaria sempre conosco. E é por isso que não temos falta de nada. Se não há falta dEle, nada falta.

Essa provisão se traduz de várias formas. A primeira coisa que aparece depois do pastoreio — e isso é muito interessante — é a última coisa que Deus faz: repousar. 

Eu tive um burnout em 2004. Burnout é basicamente quando você passa dos limites porque se esquece de repousar. Saí de férias alguns dias atrás e botei no status do WhatsApp: “Férias, porque o trabalho dignifica, mas só o descanso santifica.” Só o descanso santifica. Não é à toa que aparece lá: “Guarda o dia do sábado para O santificar.” A ideia não é simplesmente guardar o sábado, é santificá-lo — e, ao santificar, você descansa. Repousar é fundamental. E a primeira coisa que Deus colocou na cabeça de Davi é que provisão de Deus é permitir descanso.

Eu tinha um primo pastor que se suicidou. Uma das razões pelas quais ele enveredou por essa loucura é que ele não conseguia parar. Tive chance de conversar com ele um pouco antes, na época do meu burnout. Choramos juntos por telefone. Mais ou menos um ano depois, ele se matou. Ele não conseguia entender que Deus tinha dado a chance de parar. E o sogro dele — que não era crente — disse: “Deus tá te dando um presente e você não tá aproveitando. Descansa. Repousa.” Provisão de Deus é repouso.

Provisão de Deus é também condução: “Faz-me repousar em pastagens verdejantes;” Pasto verdejante é muita comida. Mas é também refrigério: primeiro é repousar, e a segunda é refrigerar-se, alegrar-se. O ministério é algo que precisa de arrefecimento. Sabe aquele sistema que tem nos carros para resfriar? Nós não somos máquinas, e não adianta só descansar: é preciso buscar fontes de alegria. 

“Ele conduz a águas tranquilas.” A gente não faz ideia do que é água tranquila. Era raro um pastor encontrar um lugar onde a água estivesse calma, segura para o rebanho beber. Mas  Deus tem coisas raras para arrefecer o calor do deserto na sua vida. 

Quero dar um salto e falar de algo que esquecemos: lembramos muito do “vale da sombra da morte”. Cada um tem uma imagem desse vale. Contudo, falamos muito do vale, mas pouco do depois. Em 2020, quando preguei este Salmo e comecei a enfatizar: “Preparas um banquete perante mim na presença dos meus inimigos; unges a minha cabeça com óleo; o meu cálice transborda.”, e queria dizer que no final de cada luta ministerial, há uma provisão de Deus para a celebração. 

A primeira provisão é abundância: “banquete”. Há provisão de abundância no futuro do seu ministério — talvez não do jeito que você pensa, mas há. Aprendi com um amigo pentecostal: “Deus tem mais para dar do que o diabo pode roubar”. 

A segunda, é que Deus cuida da sua imagem: “Unges a minha cabeça com óleo.” Ungir é passar o óleo e o pente. Deus restaura. Quando você passa pelo vale, passa por estresse. O que acontece no estresse? Primeiro, dá o arrepio: você toma um susto, os cabelos ficam em pé. Quando você sai do estresse, os cabelos continuam eriçados; é necessário Deus recuperar sua imagem. Se sua imagem foi manchada em algum momento do ministério, lembre-se: Deus cuida dela também.

E, finalmente: “O meu cálice transborda.” Aí sim, a alegria. “Pode a tristeza durar toda uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Tem noites que são longas — noites de polo norte, seis meses… Mas no final do desfiladeiro tem uma bênção chamada alegria. “O meu cálice transborda” — o cálice é sinônimo de alegria, é júbilo. 

Então, finalmente, você pode falar para o futuro: “O Senhor será sempre o meu Pastor e nada me faltará. Ele me fará repousar em pastos verdejantes; me guiará a águas tranquilas; me conduzirá pelas veredas da justiça. E, quando eu vier a andar por um vale sombrio como a morte, não terei medo, porque Tu estarás comigo; Tua vara e Teu cajado hão de me consolar. Tu  prepararás uma mesa perante mim, na presença dos meus inimigos; ungirás a minha cabeça com óleo e o meu cálice transbordará. Certamente bondade e misericórdia me seguirão todos os dias, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.” 

Vocês têm o futuro da provisão. Deus abençoe vocês.

Pr. João Marcos B. Soares
Diretor Executivo de Missões Mundiais 


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