Ela chegou cabisbaixa, com uma criança de 3 meses nos braços e um menino de 12 anos a acompanhava. Sentou-se ao meu lado com o rosto marcado pela dor, os olhos cansados e enrugados de tanto chorar. Então, disse-me: “Quero falar com a missionária. Preciso de ajuda”. Uma frase tão comum. Tão ouvida no meu dia a dia. Não seria novidade, não fosse sua dor. Já ouvira falar, mas nunca tinha acompanhado tão de perto, pois algumas coisas que ouvimos aqui parecem até lendas. E ela pausadamente, envolvida em sua dor, começou a contar. 

Sou natural daqui mesmo, da cidade do Dondo, cresci aqui e toda a minha família estava aqui. Há 20 anos casei-me e fui embora com meu esposo para a cidade dele, na Província da Zambézia, em Quelimane. Tivemos uma boa vida. Da nossa união, nasceram sete filhos; o mais velho hoje tem 20 e a mais nova e essa aqui, nasceu de cesariana. Há uma semana meu marido vinha da cidade de Maputo, sofreu um acidente e morreu. Quando a família ouviu que ele tinha morrido, correram até minha casa e me expulsaram juntamente com meus filhos, sob ameaça de morte. Eles achavam que eu era feiticeira e havia matado o meu marido.

Não permitiram nem que eu pegasse uma mala para colocar as minhas coisas. O que consegui pegar amarrei em um pano. Peguei cinco das crianças e fugi, pois estavam furiosos. Os dois filhos mais velhos deixei numa tenda na casa de vizinhos, pois estavam estudando. Os outros nem tiveram chance de fazer o exame final na escola. Fugi para salvar minha vida e a vida dos meus filhos. Saí sem nada.

Nesse tempo que estive fora, mal me comunicava com a minha família. E ao chegar aqui, descobri que todos morreram.  Só sobrou uma prima com quatro filhos que mora numa palhoça (casa coberta de plástico e capim e paredes de bambu e barro) pequenina. Ela e viúva. Mas mesmo assim, ela me acolheu.

Ontem fui ao funeral do meu marido, nem sei onde foi enterrado. Os filhos não tiveram chance de se despedir do pai. Estávamos sem saber o que fazer, quando alguém nos convidou para virmos à igreja. É a segunda vez que venho. Ouvi a Palavra e aceitei Jesus, pois só Ele pode me dar esperança. Então me falaram da irmã por isso eu vim. Minhas crianças estão famintas. Estou morando com minha prima. Em um pequeno espaço, vivemos nós duas e nove crianças.

Saí nesta manhã e minha filha de 4 anos ficou chorando.  Ela tem fome e medo de que eu não volte. Estou operada há 3 meses, mas pode me dar um trabalho. Eu só quero comida para os meus filhos.

 "E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada." (Hebreus 13.16)

Fiquei olhando aquelas duas crianças, e a maneira que estavam mostrava que tinham boa vida, uma alimentação razoável, mas agora estavam ali sem nada. Falei-lhe de Jesus e como Ele nos ajuda nesses momentos tão difíceis em nossas vidas. Mas entendi que naquele momento, orar e fortificar a fé dela não seria suficiente. Na sexta-feira tinha acontecido o almoço de mais de 500 crianças das escolinhas. Havia sobrado um pouco de óleo, arroz e feijão. Entreguei a ela, que se foi mais animada. 

Todos os domingos esta jovem viúva está na igreja. Os filhos mais velhos foram tirados de onde estavam e querem vir ao encontro da mãe. Mas ela precisa de casa, comida e dinheiro para trazê-los. Neste momento escrevo este artigo, porque sei que o nosso trabalho é levar esperança. Minha expectativa é para que Deus fale com você e possamos, juntos, ajudar essa mãe que só encontrou esperança em Jesus. 

Com três meses de cesariana, ela não pode trabalhar. Mas Deus pode falar com você para que seja canal de esperança para essa mulher. Seu nome e Cândida. 

Noemia Cessito
missionária em Moçambique

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